quarta-feira, 17 de março de 2010
http://www.autistsandotherists.blogspot.com
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terça-feira, 9 de março de 2010
Obrigada para todos!
AMIGO de coração, voce me ajuda a a DIVULGAR MEU TRABALHO MUSICAL? basta clicar nas músicas abaixo, de meu site http://www.ubetoo.com/julianaparaiso
é assim: cada vez que um amigo escuta uma música minha, eu recebo uma comissão que me ajuda a continuar minha carreira! então, se meus amigos quiserem se divertir com letras engraçadas e me ajudar, é só clicar nesses links abaixo:
http://www.ubetoo.com/julianaparaiso/28415 esta é minha música "Êê...Vidão"!
http://www.ubetoo.com/julianaparaiso/28414
esta é minha música "Noite de Luar"!
http://www.ubetoo.com/julianaparaiso/28410
esta é minha música "Jeito de prazer"!
Aparecerá uma janela com o nome de minha música e é só clicar na setinha de "play" e pronto!!
Obrigadaaaa!!! Beijo de Juliana Paraíso!
outros espaços meus:
http://www.twitter.com/julianaartista
http://www.facebook.com/julianaparaiso
sábado, 6 de março de 2010
Para todos os irmãos e irmãs de Pessoas Especiais
Ser irmão ou irmã de uma Pessoa Especial é uma missão desafiadora: é desde o começo da vida conviver com o inusitado, o bizarro, o desconhecido; é experienciar junto com seus pais momentos de angustia, solidão, desespero, desânimo; muitas e muitas vezes é ceder para o irmão especial numa disputa de afeto pela mãe e pelo pai; ser irmão ou irmã de uma Pessoa Especial é amadurecer emocionalmente muito cedo.
Mas também ser irmão ou irmã de uma Pessoa Especial é ganhar um passaporte de saída da mediocridade do viver! é desenvolver e muito a inteligência emocional, de tanto que se aprende a se colocar no lugar do outro para tentar compreende-lo; é aprender o que é Solidariedade e Cumplicidade, que são muito mais que apenas palavras.
Para YARA BARROSO, a irmã de nossa Juliana Artista colaboradora e inspiradora deste blog, deixo registrado neste momento nosso imenso AMOR e orgulho e alegria e prazer por VOCE EXISTIR, principalmente por voce existir em nossas vidas, na forma de um ser humano sensível, inteligente, responsável; pela grande e eterna amiga, além de minha filha e irmã de Ju; pela mãe segura e amorosa e que se tornou e ainda se torna todos os dias; por nos dar mais um ser maravilhoso em nossa familia, a Melzinha.
Filha, obrigada pelos puxões de tranças que voce deixou Juli dar em voce sem brigar com ela e ainda levar uns tapas meus lhe obrigando a revidar...rsrs; obrigada pelas inumeras vezes que voce ficou cuidando de Juli em minha necessária ausencia; obrigada do fundo de nossos corações e saiba: somos resilientes e a VIDA É MUUUUITO LOOONGA, vamos celebrar!!!!
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Uma emoção em forma de poema para todas as Pessoas Autistas
"Autista Universo Nu"
Firmamento próprio o como ou Sol um como
lamparina uma como, tolos nós, todos nós
a iluminando, humanamento de medidas
como espelhos, como enigmas
Como conosco existindo, planetas
como eixos de torno em girando, borboletas
como mãos as com voando, extraterrenas brincadeiras
sorrisos próprios seus de ecos escutando
Corpos seus fossem não eles se como
sons cheiros imagens ensimesmando
mundo desse qualquer estranho cantinho
num assim ficam, oportuno momento
do guardiães silenciosos
(leia-se "de baixo para cima e da direita para a esquerda"
como gosta de ler minha amiga Nanda, autista)
Firmamento próprio o como ou Sol um como
lamparina uma como, tolos nós, todos nós
a iluminando, humanamento de medidas
como espelhos, como enigmas
Como conosco existindo, planetas
como eixos de torno em girando, borboletas
como mãos as com voando, extraterrenas brincadeiras
sorrisos próprios seus de ecos escutando
Corpos seus fossem não eles se como
sons cheiros imagens ensimesmando
mundo desse qualquer estranho cantinho
num assim ficam, oportuno momento
do guardiães silenciosos
(leia-se "de baixo para cima e da direita para a esquerda"
como gosta de ler minha amiga Nanda, autista)
Autistas presentes!
Olá a todos.Quero dizer a todos os pais de pessoas autistas que falem na frente de seus filhos só coisas boas sobre eles, porque eles estão presentes, tá?.
Quando eu comecei a conversar direito com as pessoas eu já tinha 10 anos de idade. Então, um dia passou na TV uma música e eu escutei; então eu disse para minha mãe que aquela música foi o tema de abertura de uma novela do ano em que eu nasci...minha mãe quase morreu de susto de novo....hahahahaha....então ela me perguntou sobre as outras novelas e eu fui contando para ela todas as musicas das novelas, uma por uma, desde o ano que eu nasci até hoje. Depois minha mãe perguntou sobre pessoas e coisas que eu vi desde o ano em que eu nasci e eu contei para ela que eu lembrava das roupas das pessoas, de tudo que estava ao redor do dia do encontro com essas pessoas, quando eu ainda era criancinha. Outro dia até lembrei de como era dentro da barriga de minha mãe...ela quase morreu de susto de novo...hahaha...PORQUE TUDO QUE EU VÍ DENTRO DA BARRIGA DELA FOI.....LUZ !!!!!
Quando eu comecei a conversar direito com as pessoas eu já tinha 10 anos de idade. Então, um dia passou na TV uma música e eu escutei; então eu disse para minha mãe que aquela música foi o tema de abertura de uma novela do ano em que eu nasci...minha mãe quase morreu de susto de novo....hahahahaha....então ela me perguntou sobre as outras novelas e eu fui contando para ela todas as musicas das novelas, uma por uma, desde o ano que eu nasci até hoje. Depois minha mãe perguntou sobre pessoas e coisas que eu vi desde o ano em que eu nasci e eu contei para ela que eu lembrava das roupas das pessoas, de tudo que estava ao redor do dia do encontro com essas pessoas, quando eu ainda era criancinha. Outro dia até lembrei de como era dentro da barriga de minha mãe...ela quase morreu de susto de novo...hahaha...PORQUE TUDO QUE EU VÍ DENTRO DA BARRIGA DELA FOI.....LUZ !!!!!
Eu era autista, agora sou aRtista.
(Foto: eu e minha Banda Caracatu, fazendo show no Tonton Casa de Shows, SP, nov.2007)
Eu era autista quando eu tinha quatro anos de idade, agora tenho mais de vinte...não importa a idade, o que importa é o coração alegre das pessoas!
quando eu ainda tinha 3 anos, eu ainda não sabia que precisava falar, então, eu sentei ao piano Hoffman de minha mãe e toquei com minhas duas mãos uma musiquinha que eu escutava na TV...quase matei de susto minha mãe....hahahaha....só porque a musica era do Vivaldi, sinfonia da primavera.
Depois, com quatro anos, eu brincava de pegar um copinho médio de plástico, desses descartáveis que tinha uma porção de ranhuras em tirinhas, sabe? e eu encostava o copinho com a borda na parede e ficava passando o lápis de cor nas ranhuras, porque cada ranhura soava uma nota e um tom de música; foi assim que eu descobrí que podia compor minhas proprias músicas. Só não contei para ninguem porque não sabia ainda que precisava, porque eu ainda era autista clássica.
Eu só não sabia que precisava falar, só isso
(Foto: eu com quatro anos e meu sorriso "de convencer minha mãe", rsrsrs)
Olá a todos.
Quero dizer a todos os pais de pessoas autistas que seus filhos estão presentes, não perdidos em outro mundo.
Olá a todos.
Quero dizer a todos os pais de pessoas autistas que seus filhos estão presentes, não perdidos em outro mundo.
Quando eu era bebê meus olhos tinham estrabismo e eu operei. Eu não sabia que precisava falar, então eu cantava. Comecei a andar com onze meses e a cantar com onze meses tambem. Eu lembro de eu estar no meu berço de rodinhas embaixo e eu cantava "Travessia" de Milton Nascimento e "Cigarra" de Milton Nascimento, porque eu escutava muito essas músicas, minha mãe tinha os LP´s dele. Hoje eu coleciono LP´s e ela não tem mais LP´s, rsrsrs. Eu não falava, só cantava. Cantava, gostava de brincar com meus dedos das mãos, gostava de rodar em minha volta, gostava de soltar pum, rsrsrsrsrssss. Quando eu queria alguma coisa eu pedia "Juliana quer isso, Juliana quer aquilo", na terceira pessoa. Eu adorava morder os lp´s pequenos e depois jogava eles atras da minha cama para ninguém ver. Quando eu fiz 3 anos de idade, minha mãe começou a brincar de Ludoterapia comigo, com bonecos; cada boneco era uma se fosse uma pessoa que eu conhecia; quando a pessoa ia me visitar, eu escondia o boneco que representava a pessoa; quando a pessoa ia embora, eu pegava o boneco e ia brincar com ele, como se a pessoa ainda estivesse comigo. Só quando eu fiz 6 anos foi que eu comecei a colocar nomes nos bonecos, porque achei que precisava falar...ou então eu comecei a falar para poder colocar os nomes nos bonecos...hahahahaha.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Os Autistas possuem a doença do "não terem o que os Outristas querem"
"Há doenças extravagantes que consistem em querer o que não se tem"
Esta frase pertence a André Gide em seu livro “Os frutos da terra” (1950), prêmio Nobel de Literatura da época. Quando escreveu esse livro, o autor acreditava que morreria brevemente, devido a uma doença da qual estava sofrendo. Tomando como referência essa observação de Gide, e transpondo-a para a questão da construção da pessoa autista, pode-se dizer que, de certa forma, esta é muitas vezes tida como uma pessoa doente por não possuir características que “o outro” espera que possua.
A pessoa autista deveria saber o que o outro espera dele, mas não sabe; deveria corresponder sincronicamente à expectativa do outro, mas não sabe que deveria; deveria reproduzir o que lhe foi ensinado em crenças e valores, mas não reproduz; deveria andar direito, como os outristas andam, mas não conseguem; deveriam se comportar à mesa de acordo com as regras de etiqueta, mas não o fazem; deveriam reproduzir as regras de boas relações no ambiente profissional, mas não entendem as manhas sociais dos outristas...
Disse Gauderer (1993:318):
“Mas a pessoa autista não sabe o que o outro espera dela. Parece que falta à criança autista uma teoria da mente, ou seja, ela tem uma incapacidade de se relacionar adequadamente aos pensamentos e emoções de uma outra pessoa ... e não tem a capacidade normal de ‘juntar’ comportamentos de outras pessoas em benefício próprio”.
Até onde foi observado através da multivocalidade dos discursos que compuseram meu trabalho, a pessoa autista vem sendo concebida como “pessoa que constrange”, por exibir um comportamento socialmente inapropriado. Isto nos remete ao arquétipo do ser incomum e desvalido, análogo ao arquétipo contido na estória do “Patinho Feio”, de Hans C. Anderson, interpretada por Pinkolas (1997:218).
“Na história, as diversas criaturas da comunidade examinam o patinho ‘feio’ e de um modo ou de outro o declaram inaceitável. Na realidade, ele não é feio. Só não combina com os outros. A mãe pata a princípio tenta defender esse patinho, que ela acredita pertencer à sua prole. Afinal, porém, ela fica profundamente dividida em termos emocionais e deixa de se importar com o filhote estranho. Seus irmãos e outros membros da comunidade atacam-no e o atormentam. Sua intenção é a de fazer com que ele fuja. Isso é terrível, especialmente levando-se em conta que ele na realidade não fez nada que justificasse esse tratamento a não ser ... agir um pouco diferente dos outros."
Muitas pessoas exteriorizaram para mim um sentimento não apenas de constrangimento ou vergonha por terem em seu grupo alguém tido como “diferente”, mas também o sentimento de impotência por não terem a expectativa do “alívio do mal” que os aflige, da “cura” e, por outro lado, por não conseguirem abandoná-lo. Tudo isso pode explicar a questão do isolamento social que ocorre também com as famílias desses autistas.
Sacks (1999:283), em seu livro “Um antropólogo em Marte”, afirma que:
“de fato, em alguns autistas esse sentimento de uma diferença radical e inerradicável é tão profundo a ponto de levá-los a ver-se ... quase como membros de outras espécies, e a sentir que o autismo, embora possa ser visto como uma condição médica, e patologizado como uma síndrome, também deve ser encarado como um modo de ser complexo, uma forma de identidade profundamente diferente, de que se deve ter consciência."
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Sobre uma assistência pública para pessoas autistas
Este blog pretende abrir um espaço para a voz de todos as pessoas autistas, asperger e seus familiares no sentido de buscar compreender suas queixas, seu modus vivendi, seu ethos, que muitas vezes difere do que é estabelecido pela ciência da psiquiatria.
A Síndrome do Autismo demanda um estudo conjugado por parte de profissionais de diferentes campos, não apenas pelo profundo desconhecimento em que se encontra, apesar de todas as investigações científicas, como também pelo fato de que a Síndrome do Autismo teve o seu primeiro diagnóstico pelos meados do século XX. Para a ciência como um todo, isto vem a ser considerado pouco tempo para determinar as causas precisas desse fenômeno. Atualmente, são ainda poucos e caros para a maioria das famílias, os locais onde acolhem o sujeito autista. Em muitos de nossos Estados brasileiros, não existe nenhuma assistência pública que objetive a socialização do autista com capacidade de linguagem e discurso auto-narrativo; não existe ainda nenhuma assistência pública especializada que possua uma organização pedagógica no sentido de reunir sujeitos autistas com capacidades cognitivas semelhantes para que a esses possam ser transmitidos e ensinados valores e normas sócio-culturais, educação especial.
Toda essa carência propicia uma desordem familiar crônica, no que diz respeito a família dos autistas, visto que muitas destas famílias arcam sozinhas com todo o tipo de dificuldades sociais, financeiras e emocionais. E visto que, o sujeito autista, já adulto, torna-se despossuído do seu direito de ser legitimado como pessoa, como cidadão, sendo indefinidamente considerado como “estranho”, “diferente”, “especial”. Muitos dos sujeitos autistas, por não serem diagnosticados como autistas quando crianças, são tidos como retardados e psicóticos e “esquecidos” em instituições para doentes mentais, desde jovens. De acordo com Oliver Sacks, neurologista, autor de “Um Antropólogo em Marte” (1995:260), “sem um ensino especial... estes jovens autistas, apesar de sua com freqüência boa inteligência e formação, poderiam ter permanecido profundamente isolados e incapazes”.
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O Enigma do Autismo: "decifra-me ou te devorarei"
É interessante fazermos uma comparação entre definições e os conceitos abaixo, observando o contraste existente entre o ponto de vista biomédico e o ponto de vista de sujeitos autistas:
“Autismo – fenômeno patológico caracterizado pelo desligamento da realidade exterior e criação mental de um mundo autônomo” (FERREIRA, 2002:76).
“Autismo é uma doença grave, crônica, incapacitante que compromete o desenvolvimento normal de uma criança... que relacionam-se com objetos, eventos e pessoas de maneira não usual, tudo levando a crer que haja um comprometimento orgânico do sistema nervoso central em níveis mais diversos. ... Não se sabe explicar exatamente o porquê da associação entre autismo e a deficiência mental”. (GAUDERER, 1993:302).
“O Autismo é um jeito de ser. Não é possível separar o autismo da pessoa”. (Jim Sinclair, autista, americano, conferencista sobre o tema Autismo).
“... curiosamente, a maioria das pessoas fala apenas de crianças autistas e nunca de adultos, como se alguma maneira as crianças simplesmente sumissem da face do planeta. Mas embora possa haver de fato um quadro devastador aos três anos de idade, alguns jovens autistas, ao contrário das expectativas, podem conseguir desenvolver uma linguagem satisfatória, alcançar habilidades sociais e mesmo conquistas altamente intelectuais... mesmo se encobrindo de uma singularidade autista... até profunda.” (SACKS, 1995:260).
“Ela (Uta Frith, médica, autora de ‘Autism: Explaining the Enigma’) também conclui, com espírito especulativo, que pode haver outro lado desse ‘algo’ (que os autistas possuem e que não pode ser corrigido ou substituído), uma espécie de intensidade ou pureza moral ou intelectual, tão distante do normal a ponto de parecer nobre, ridícula ou temível para os outros. Ela se pergunta... sobre Sherlock Holmes, com sua esquisitice, suas fixações peculiares – sua ‘pequena monografia sobre as cinzas de 140 diferentes variedades de fumos de cachimbo, charuto e cigarro’, seus ‘evidentes poderes de observação e dedução, revelados pelas emoções diárias de gente comum’, e a maneira extremamente pouco convencional que, com freqüência permite-lhe resolver um caso que a polícia com suas mentes mais convencionais, é incapaz de solucionar.” ( SACKS, 1995:261).
Amy (2001:19), diz que:
“O Autismo foi objeto de hipóteses formuladas por psicanalistas, educadores, biólogos, geneticistas e cognitivistas. Permanece, no entanto, como um mistério quanto a sua origem e evolução. É sem dúvida difícil determinar se a oposição ao mundo que essas crianças manifestam é ativa e voluntária, se lhes é imposta por deficiências biogenéticas cujas origens ignoramos ou se ‘o inato e o adquirido’ se articulam entre si para criar desordem e anarquia no universo interno dessas crianças”.
Na realidade ninguém ainda conseguiu decifrar o enigma do sujeito autista: “ele não quer ou ele não consegue?” Para alimentar esta polêmica muitas publicações internacionais e nacionais demonstram diferentes e apaixonadas teorias acerca da síndrome do autismo. As classificações psiquiátricas – CIM, 10, internacional; DSM III – R e IV, americana; e CFTMEA, francesa, não chegam a um denominador comum.
“Ainda em 1994, na França, um programa de televisão intitulado ‘O enigma das Crianças Fortaleza’ apresentou uma pessoa, a senhora Laxer, mãe de uma autista autora do livro ‘Autismo a Verdade Recusada?’; essa senhora contou que seu filho autista quando tinha apenas oito anos de idade, e até então nunca havia falado pouco após ouvir seu médico dizer a sua mãe que esta deveria "esquecê-lo em algum lugar que o aceitasse’, ouviu seu filho dizer-lhe “mamãe” colocando os braços em volta do seu pescoço.” (DOMINIQUE 2001:29).
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" I. A. _ INTELIGÊNCIA AUTÍSTICA"
Há características constantes na incidência dessa síndrome, até nas culturas mais diferentes. No diálogo com uma pessoa autista, percebe-se uma “saída de sintonia”, entre seu discurso, o tema e o ouvinte, sem que as pessoas autistas o percebam, ou mudanças de assunto repentinas (Sacks, 1999). Mas o discurso existe, e há quem fale sobre uma “inteligência autista” como uma inteligência praticamente intocada pela tradição e pela cultura.
Para as pessoas autistas que conversam comigo, ser uma pessoa socialmente aceita requer imitar o comportamento dos seus familiares, mediante consultas compulsivas à algum tipo de registro dos ensinamentos (agendas) ou perguntas repetitivas e cotidianas a algum parente. Parece que a pessoa autista não internaliza os símbolos e valores do grupo, mas quer de alguma forma reproduzi-los para interagir com a família.
Para a família, essas pessoas estão em contínuo processo de construção da pessoa idealizada por eles. Por não conseguirem agir independentemente, com autonomia, por dependerem de alguém para pequenas e grandes escolhas e decisões cotidianas, isso tudo exemplificaria falta de identidade própria, que reflita a identidade do grupo; a falta de uma consciência do “eu”, de sua continuidade em si.
Todos os valores do grupo precisam de ensinamentos incansáveis para o sujeito autista vir a corresponder ao modelo ideal de pessoa ética e moral (sentimentos, honra, direitos e deveres); de pessoa jurídica com títulos e posses (o valor do dinheiro é irrelevante para essas pessoas autistas); de pessoa civil (Título de Eleitor, RG, CPF); de pessoa religiosa (compreender o abstrato).
Durante o processo de ensinamento, a criança ou o jovem ou o adulto autista não tem identidade fora da condição de portador da síndrome. Os dados etnográficos que disponho apontam para um discurso de identidade que se baseia na negação de uma identidade que gera sofrimento, e na expectativa de uma “cura” que seria através do remodelamento comportamental do sujeito autista ou o ajuste entre o sujeito e o modelo ideal para o grupo de origem.
Assim sendo, o indivíduo é visto pelo grupo como “um”, e a Síndrome do Autismo como uma espécie de “outro”, uma “coisa”, algo de “fora”, passível de remodelamento e incorporável ao indivíduo, que se tornará parecido com os seus e desse modo aceito como pessoa “normal”, pertencente ao grupo social.
OUTRISTAS, quem são eles?
Um dos pressupostos com relação à pessoa autista é de que ela vive isolada em si mesma. Desde o começo é vista pelos "outros" ao seu redor às vezes como um bebê que não brinca ou uma criança retraída demais, um adolescente inconveniente, um adulto que constrange, etc., enfim, uma pessoa que não reproduz os valores e crenças ensinados por seu grupo social de origem.
As pessoas consideradas "não-autistas", são consideradas "normais" na medida em que parecem reproduzir esses valores e crenças. Esses valores e crenças são "as normas" da sociedade a qual pertencem, normas estas pré-estabelecidas pelos "outros" que já existiam antes delas nascerem. "As normas" são ditadas pelos seus familiares e pela sociedade na qual nasceram, pela escola, pela religião, pelo sistema político e econômico,etc.
Por exemplo, aqui em nossa cultura ocidental capitalista uma pessoa saudável possui uma carteira de trabalho e produz capital; possui um título de eleitor e ainda vota; é considerada civilmente capaz para assumir suas obrigações e responsabilidades, para constituir uma familia e ensina-la a reproduzir seus valores e crenças socioculturais.
Desse modo, se autistas se constroem isolados em si mesmos, os "OUTRISTAS" se constroem seguindo as normas pre-estabelecidas por outros. E por fim, os outristas possuem a expectativa de que os diferentes deles tornem-se iguais a eles um dia e exercem determinada pressão psicossocial neste sentido, mediante sanções sociais, exclusão social, etc.
Ser uma pessoa é diferente em cada cultura
A idéia de pessoa como um ser representado em si mesmo é contemporânea. Tem relação com as necessidades de nomear e atribuir sentido às diferentes categorias de sujeitos e essa idéia é também uma construção social. “Em uma mesma época essa idéia difere de uma sociedade para outra, podendo não existir sequer em algumas.” (MAUSS, 1974:209).
A palavra “pessoa” tem sua origem no grego (máscara, persona) e no latim (per sonare), passando por diferentes significações ao longo do tempo. Ainda tomando como referência o pensamento de Marcel Mauss, “de personagem ritual, persona, pessoa, passa a ser o sujeito-cidadão (Roma antiga), com nomen, praenomen e cognomen (posição na família) e status social. Após o início do Cristianismo, acrescentou-se à idéia de sujeito–cidadão a idéia de sujeito ético e moral, dotado de sentimentos e consciência de sua história de vida. Apenas de dois séculos para cá, a noção de pessoa passou a incorporar em si a categoria do eu, como uma “construção simbólica de significações que os homens fazem a respeito do sentido de si próprios” (BRANDÃO, 1987:27).
Desse modo, a idéia de pessoa transforma-se ao longo dos tempos dentro do contexto histórico–sócio–cultural no qual é produzida.
Para Geertz (2000:91),
“algumas vezes as noções que as pessoas têm sobre o que é ser uma pessoa podem parecer, do nosso ponto de vista, bastante estranhas. Uns acreditam que pessoas voam de um lado para o outro, durante a noite, na forma de vagalumes; ... outros crêem compartilhar seu destino com animais doppel–gänger, de modo que, quando o animal adoece ou morre, eles também adoecem ou morrem. (...) Para entender as concepções alheias é necessário que deixemos de lado nossa concepção e busquemos ver as experiências de outros com relação à sua própria concepção do ‘eu’.”
A idéia de pessoa autista sob o olhar da Medicina tradicional:
Em 1943, Leo Kanner, médico austríaco, observando algumas crianças com comportamento diferenciado da esquizofrenia, define-as como portadoras de “autismo infantil”, e sobre estas, diz que:
“...a desordem fundamental é a inaptidão das crianças a estabelecer relações normais com pessoas e a reagir às situações... os pais referem-se a eles como tendo sempre sido auto-suficientes, como em uma concha, agindo como se ninguém estivesse presente... dando a impressão de uma sabedoria silenciosa...” (In: DOMINIQUE, 2001:32)
Kanner ainda acrescentará o desejo de imutabilidade (nada deve mudar) e a patologia da linguagem, que quando está presente (estima-se que 50% dos autistas não adquirem linguagem) não possui, e por um longo tempo, valor de comunicação.
A partir de 1944, a Psicanálise, através de um de seus representantes, Bruno Bettelheim, iluminou outras perspectivas acerca do sujeito autista, pensando-lhe como uma espécie de “Fortaleza Vazia”. Outra psicanalista, Francis Tustin, concebeu o autista como “criança encapsulada”, que vivia em uma espécie de “buraco negro”. Outro ainda, Donald Meltzer, descreveu o autista como “pessoa em desmantelamento, onde o eu não possui mais coerência”. Outra psicanalista inglesa, Esther Bick, já concebia o autista como uma pessoa que se recobrisse com uma “segunda pele”.
Do ponto de vista Etnopsiquiatria, um de seus representantes, Tobie Nathan , observando famílias migrantes que possuem parentes autistas, estabelece que a cultura e o psiquismo “funcionam de maneira associativa”, e afirma que: “Não basta pertencer a uma espécie biológica, é preciso, além disso, ser membro de um grupo cultural, que... possua um modo específico de coesão... de troca com outros grupos”. Para Nathan, o autista vive numa espécie de “refúgio”, onde se o autista não chega a se apropriar do sistema de troca que é a língua, é porque, por razões que devem ser esclarecidas em cada caso, ele foi constrangido a garantir sozinho o isolamento de seu funcionamento psíquico, e não por uma comparação termo a termo com a organização cultural... ele assegura a preservação de sua identidade exclusivamente por seus próprios meios...).
Dominique (2001), psicóloga e psicoterapeuta, afirma que “essa visão do autismo... cujo o segredo ainda está por ser descoberto... se deve... a capacidade que elas têm de desconcertar e ao sentimento de ignorância que eles nos fazem sentir constantemente”.
Ao compararmos o que foi observado por Kanner – o autista como pessoa “em uma concha” – e o que foi dito no discurso já mencionado em outra postagem anterior do autista Jim Sinclair – “o autismo... não é... uma concha na qual ela (a pessoa autista) esteja presa. Não há nenhum indivíduo normal escondido por trás do autismo. O autismo é um jeito de ser”, percebemos já aqui uma falta de sintonia entre o discurso biomédico e o discurso do autista. As idéias anteriormente mencionadas a respeito da pessoa autista como “uma fortaleza vazia”, “uma criança encapsulada” num “buraco negro”, “uma pessoa em desmantelamento”, “uma pessoa que parece recobrir-se com uma segunda pele”, “uma pessoa em refúgio”...será que podemos considerá-las apenas como projeções pessoais do inconsciente de "outristas"?
"Autistas são PRESENTES!"
NOSSOS "AUTISTAS PRESENTES"
Quando no ano de 2000 ainda estava realizando meu trabalho de campo em Antropologia, meu OBJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA foi "COMO É CONSTRUÍDA A IDÉIA DE PESSOA AUTISTA" em uma determinada cultura e este trabalho pode ser lido no site http://www.antropologia.ufba.br/monografias.html_2002.
Este trabalho trata sobre a PESSOA AUTISTA e não sobre a síndrome do autismo como patologia em si. O que a Psiquiatria ditava sobre o autismo, interessava menos. O mais importante para mim era a PESSOA do AUTISTA dentro de sua rede social, sua familia, seus parentes e amigos. Assim, tomei diferentes casos de autismo para estudo. Fui ao lar de cada familia que aceitou participar; passamos horas, dias, juntos, refletindo, conjecturando, dividindo tarefas domésticas, rindo e chorando com nossas dificuldades e pequenas conquistas.
A partir das narrativas desses familiares e da narrativa das próprias pessoas autistas entrevistadas, busquei identificar o que elas consideram como o que é "ser autista" e através dos discursos das pessoas, procurei reunir e analisar as formas simbólicas expressas através da linguagem, das imagens, do comportamento e das instituições que as representam, comparando-as não apenas umas com as outras mas, inclusive, comparando-as com a noção de “pessoa autista” do ponto de vista de medicina tradicional.
Dessa maneira, busquei compreender as formas de construção de uma identidade autista e a noção de pessoa elaborada sobre eles.
Os sujeitos autistas possuem vida psíquica, sim e uma rede de relações sociais que com eles tentam interagir. Possuem famíliares e amigos que se sentem de alguma forma responsáveis pelo que ocorre com eles.
Certa vez perguntei a minha filha autista porque, aos sete anos de idade, ela não conversava com ninguém (agora ela está com mais de vinte anos) e ela respondeu: – “eu não sabia que precisava”. Ora, não saber que precisa é muito diferente de "não saber ou não poder " conversar....
O mais importante: quando minha filha decidiu conversar, ela me contou sobre coisas que acontecerem desde quando ela tinha apenas um ano de idade! com detalhes de cores, aromas, rostos, músicas...gente, nossos autistas estão todo todo o tempo PRESENTES! é justamente por crer nisto que hoje minha filha conversa, canta e conta tudo aqui para todos vocês.
Quando no ano de 2000 ainda estava realizando meu trabalho de campo em Antropologia, meu OBJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA foi "COMO É CONSTRUÍDA A IDÉIA DE PESSOA AUTISTA" em uma determinada cultura e este trabalho pode ser lido no site http://www.antropologia.ufba.br/monografias.html_2002.
Este trabalho trata sobre a PESSOA AUTISTA e não sobre a síndrome do autismo como patologia em si. O que a Psiquiatria ditava sobre o autismo, interessava menos. O mais importante para mim era a PESSOA do AUTISTA dentro de sua rede social, sua familia, seus parentes e amigos. Assim, tomei diferentes casos de autismo para estudo. Fui ao lar de cada familia que aceitou participar; passamos horas, dias, juntos, refletindo, conjecturando, dividindo tarefas domésticas, rindo e chorando com nossas dificuldades e pequenas conquistas.
A partir das narrativas desses familiares e da narrativa das próprias pessoas autistas entrevistadas, busquei identificar o que elas consideram como o que é "ser autista" e através dos discursos das pessoas, procurei reunir e analisar as formas simbólicas expressas através da linguagem, das imagens, do comportamento e das instituições que as representam, comparando-as não apenas umas com as outras mas, inclusive, comparando-as com a noção de “pessoa autista” do ponto de vista de medicina tradicional.
Dessa maneira, busquei compreender as formas de construção de uma identidade autista e a noção de pessoa elaborada sobre eles.
Os sujeitos autistas possuem vida psíquica, sim e uma rede de relações sociais que com eles tentam interagir. Possuem famíliares e amigos que se sentem de alguma forma responsáveis pelo que ocorre com eles.
Certa vez perguntei a minha filha autista porque, aos sete anos de idade, ela não conversava com ninguém (agora ela está com mais de vinte anos) e ela respondeu: – “eu não sabia que precisava”. Ora, não saber que precisa é muito diferente de "não saber ou não poder " conversar....
O mais importante: quando minha filha decidiu conversar, ela me contou sobre coisas que acontecerem desde quando ela tinha apenas um ano de idade! com detalhes de cores, aromas, rostos, músicas...gente, nossos autistas estão todo todo o tempo PRESENTES! é justamente por crer nisto que hoje minha filha conversa, canta e conta tudo aqui para todos vocês.
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