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sexta-feira, 5 de março de 2010

" I. A. _ INTELIGÊNCIA AUTÍSTICA"

Há características constantes na incidência dessa síndrome, até nas culturas mais diferentes. No diálogo com uma pessoa autista, percebe-se uma “saída de sintonia”, entre seu discurso, o tema e o ouvinte, sem que as pessoas autistas o percebam, ou mudanças de assunto repentinas (Sacks, 1999). Mas o discurso existe, e há quem fale sobre uma “inteligência autista” como uma inteligência praticamente intocada pela tradição e pela cultura.
Para as pessoas autistas que conversam comigo, ser uma pessoa socialmente aceita requer imitar o comportamento dos seus familiares, mediante consultas compulsivas à algum tipo de registro dos ensinamentos (agendas) ou perguntas repetitivas e cotidianas a algum parente. Parece que a pessoa autista não internaliza os símbolos e valores do grupo, mas quer de alguma forma reproduzi-los para interagir com a família.
Para a família, essas pessoas estão em contínuo processo de construção da pessoa idealizada por eles. Por não conseguirem agir independentemente, com autonomia, por dependerem de alguém para pequenas e grandes escolhas e decisões cotidianas, isso tudo exemplificaria falta de identidade própria, que reflita a identidade do grupo; a falta de uma consciência do “eu”, de sua continuidade em si.
Todos os valores do grupo precisam de ensinamentos incansáveis para o sujeito autista vir a corresponder ao modelo ideal de pessoa ética e moral (sentimentos, honra, direitos e deveres); de pessoa jurídica com títulos e posses (o valor do dinheiro é irrelevante para essas pessoas autistas); de pessoa civil (Título de Eleitor, RG, CPF); de pessoa religiosa (compreender o abstrato).
Durante o processo de ensinamento, a criança ou o jovem ou o adulto autista não tem identidade fora da condição de portador da síndrome. Os dados etnográficos que disponho apontam para um discurso de identidade que se baseia na negação de uma identidade que gera sofrimento, e na expectativa de uma “cura” que seria através do remodelamento comportamental do sujeito autista ou o ajuste entre o sujeito e o modelo ideal para o grupo de origem.
Assim sendo, o indivíduo é visto pelo grupo como “um”, e a Síndrome do Autismo como uma espécie de “outro”, uma “coisa”, algo de “fora”, passível de remodelamento e incorporável ao indivíduo, que se tornará parecido com os seus e desse modo aceito como pessoa “normal”, pertencente ao grupo social.

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